Dr. Gedegilson Moisés

Uma das doenças mais freqüentes do abdômen e tem relação direta com alimentação rica em gordura e pobre em fibras.

GENERALIDADES

Alexander Trallianus foi o primeiro a dar diagnóstico de pedra na vesícula biliar há mais de 1.500 anos. Um dos primeiros tratamentos realizados era a ingestão de água de estações minerais ricas em sulfato de magnésio.

A pedra na vesícula, também conhecida como colelitíase, colecistolitíase ou ainda litíase da vesícula biliar, é muito comum. Acredita-se que mais de 25 milhões de norte-americanos sejam portadores de pedra na vesícula. No Brasil, presume-se que aproximadamente 20% da população tenha pedra na vesícula biliar.

Hoje a Medicina evoluiu bastante no diagnóstico e tratamento de pedra na vesícula e suas eventuais complicações. O tratamento definitivo, é a segunda cirurgia mais realizada na topografia do abdômen. Por sua grande frequência na população, é muito importante saber prevenir e fazer o tratamento no momento certo, prevenindo situações desagradáveis.

ANATOMIA

A vesícula biliar é um órgão que tem forma semelhante a uma pera. Fica localizada na parte inferior do lobo direito do fígado. Tem tamanho entre 7,0 a 12,0 cm, normalmente com coloração cinza-azul.

relação da vesícula biliar com o fígado
Relação anatômica da vesícula biliar com o fígado.

Existem três partes anatômicas da vesícula biliar. De lateral para medial, estes são o fundo, corpo e colo (infundíbulo). O fundo é a parte mais lateral da vesícula biliar. Normalmente se projeta para além da borda inferior do fígado e pode tocar a parede abdominal anterior.

FISIOLOGIA DA VESÍCULA BILIAR

Este saco em forma de pêra funciona primariamente como um reservatório para a bile que foi sintetizada ao nível das células do fígado. Ao ingerir uma refeição, a presença de gorduras e proteínas nos intestinos estimula a liberação de colecistocinina, que atua ao nível do corpo e pescoço da vesícula biliar e ductos císticos e extra-hepáticos. Este hormônio peptídico provoca contração simultânea do corpo da vesícula biliar e relaxamento do colo da vesícula biliar para que o conteúdo armazenado na vesícula se transporte para dentro do intestino, logo após o estômago.

anatomia via biliar
Relações anatômicas da vesícula biliar.

Uma vez que a pressão dentro da árvore biliar atinge 10 mmH2O de bile, há relaxamento do esfíncter de Oddi. Assim, a bile pode ser liberada tanto da vesícula biliar quanto diretamente do fígado através da árvore biliar. No entanto, durante os estados de jejum, a ausência de colecistocinina resulta na contração do esfíncter de Oddi. O aumento da pressão na árvore biliar resulta no desvio da bile para a vesícula biliar, onde é armazenada e concentrada.

CAUSAS

Podemos facilmente entender que a origem de pedra na vesícula é consequência na mudança de composição da bile resultando em precipitação de cálculos ou quando há uma estase provocando precipitações na bile armazenada.

Todos os fatores de risco de uma maneira ou de outra, estão envolvidos em um ou ambos desses processos.

Assim, as principais causas de pedra na vesícula são:

  • Esvaziamento lento da vesícula biliar;
  • Obstrução biliar;
  • Excesso de colesterol na bile.

O esvaziamento lento da bile pela vesícula biliar, chamada colestase, pode resultar em aumento de sedimentos da bile, que podem se precipitar formando cristais e pedra na vesícula.

A obstrução biliar também pode causar pedras na vesícula, por diminuir ou interromper o fluxo da bile. Geralmente, essa obstrução é causada por um estreitamento do ducto biliar ou presença de câncer na vesícula biliar.

O excesso de colesterol na bile é a causa mais comum de formação de pedras na vesícula, estando geralmente associado a níveis altos de colesterol ruim (LDL) no sangue, já que o fígado usa o colesterol para produzir a bile.

FATORES DE RISCO

Apesar da hereditariedade ser considerada como um fator importante no surgimento da doença, estudos e evidências são muitas vezes circunstanciais.

A litíase de vesícula biliar pode ocorrer em qualquer idade, de recém-nascidos a idosos, mas existe uma relação com a idade, principalmente quando observamos que 40% das pessoas com 70 anos de idade têm colelitíase.

Em relação ao sexo, a pedra na vesícula está sempre mais relacionada com o sexo feminino, e independente da faixa etária é duas a quatro vezes mais comum na mulher que no homem.

Ao observar o emprego de hormônios sexuais e o número de gestações a incidência aumenta. O uso de anticoncepcionais duplica a incidência de litíase na mulher fértil, e o uso de estrogênios no homem e na mulher aumenta a incidência de cálculos de colesterol.

Além dos hormônio sexuais (estrogênios), outros medicamentos podem aumentar a ocorrência de pedra na vesícula biliar. Esse aumento pode ser visto no uso de clofibrato, colestiramina e gentifibrosil (usados para tratamento de hiperlipidemia) e ácido nicotínico, uma vitamina do complexo B.

Fatores de Risco para Pedra na vesícula

Algumas doenças estão relacionadas com maior frequência de colelitíase, como por exemplo, Doença de Crohn, Cirrose no Fígado, Porfiria, Fibrose Cística do Pâncreas, Hiperlipidemia, Doença Celíaca, Síndrome de Gilbert e Diabetes Melito.

A alimentação tem papel importante na origem dessa doença. Principalmente no aumento da ingestão de açúcar e gordura. A prevalência de litíase em vegetarianos restritos é menor e a dieta rica em fibras reduz a saturação de colesterol na bile.

Dessa maneira, os principais fatores de risco são:

  • Mulheres em idade fértil ou com mais de 40 anos;
  • Obesidade;
  • Dieta rica em gordura e pobre em fibras;
  • Terapia com estrógenos (hormônios sexuais);
  • Predisposição familiar.

SINTOMAS

A maioria dos pacientes com pedra na vesícula é assintomático. O sintoma mais importante e freqüente é a dor biliar.

A dor caracteriza-se pelo aparecimento rápido, forte intensidade e de duração que varia entre 30 minutos a poucas horas. Caso a dor persista por mais de 6 a 8 horas, deve-se suspeitar de uma complicação e ou de outro diagnóstico.

Localiza-se quase sempre na parte superior e direita do abdômen, ou ainda na parte superior e no meio do abdômen, podendo irradiar para região dorsal, para a região inferior da escápula. A dor pode vir associada a náuseas e vômitos, podendo aparecer qualquer hora do dia, inclusive de madrugada.

patient with pain

A ocorrência logo após a alimentação gordurosa e volumosa é possivelmente um mito, pois a dor é devido a obstrução temporária do duto cístico, por minutos a poucas horas. Se a obstrução for mais prolongada, o paciente evolui com colecistite aguda.

Algumas pessoas também podem desencadear sintomas inespecíficos como desconforto abdominal, intolerância a alimentos gordurosos, flatulência, eructações e dispepsia.

Alguns outros sintomas estão presentes, na circunstância de complicações ou associação por outras patologias.

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico é feito a partir da suspeita clínica na ocorrência de dor biliar e confirmado pela realização de uma ultra-sonografia abdominal, que tem sensibilidade, especificidade e precisão entre 95 a 99% dos casos.

Além do mais, a ultra-sonografia é econômica, rápida, prática e amplamente disponível. E ainda, não utiliza radiação ionizante, nem substâncias para contraste, além de permitir avaliação de outras estruturas anatômicas, que podem estar relacionadas com a doença.

Outros exames podem ser utilizados, como a Ressonância Magnética Nuclear, porém a ultra-sonografia é o exame de padrão ouro para pedra na vesícula biliar.

TRATAMENTO

O melhor tratamento para pedra na vesícula é a retirada cirúrgica do órgão, com o nome técnico de colecistectomia.

Colecistectomia ilustrativa

Tratamento alternativos como o uso de ácidos biliares por via oral, dissolução com solventes orgânicos, litotripsia e combinação destes três métodos, são atualmente empregados raramente em casos muito selecionados ou protocolos de estudos acadêmicos.

Os métodos alternativos apresentam um elevado índice de falha no tratamento, o que está relacionado com a taxa proibitiva de recorrência de cálculos.

Pacientes com diagnóstico de pedra na vesícula já possuem indicação de tratamento cirúrgico.

Com exceção ficam os pacientes com colelitíase que possuem comorbidades graves que contra-indicam o tratamento cirúrgico.

Os pacientes com colelitíase, assintomáticos, eram motivo de discussão, devido o trauma cirúrgico enfrentado pelos pacientes, principalmente quando esses tinha outras comorbidades.

Contudo, o cirurgião Mouret, no ano de 1987, na cidade de Lyon na França, fez a primeira colecistectomia por vídeo-laparoscopia.

A vídeo-laparoscopia é um método cirúrgico que acessa a cavidade abdominal através de pequenas cânulas, por onde entram instrumentos cirúrgicos e uma câmera, dando condições de fazer o mesmo tratamento cirúrgico.

Vídeo-colecistectomia
Momento cirúrgico de uma vídeo-colecistectomia.

A cirurgia laparoscópica oferece incisões quase que imperceptíveis após período de cicatrização, menos dor pós-operatória, rápido retorno ao trabalho, tempo de internação reduzido (geralmente somente 24h ou menos) e menor taxa de complicações quando realizada por cirurgiões experientes.

A mortalidade da cirurgia tornou-se menor nas últimas décadas e atualmente é menor que 0,1% e em muitos estudos é nula, quando realizada de maneira programada e em doença não complicada.

Desta maneira, a colecistectomia vídeo-laparoscópica é a melhor escolha para tratamento de pedra na vesícula biliar.

VIDA PÓS-TRATAMENTO

Muitas pessoas possuem receio na realização do tratamento cirúrgico de pedra na vesícula, por não saber como será sua vida após a cirurgia.

Após a cirurgia, por volta de duas semanas, a grande maioria dos pacientes terá o retorno completo de sua rotina pessoal, com exceção para exercícios físico intensos.

Atividades simples, como caminhar, tomar banho, alimentar-se e outros, os pacientes já podem realizar livremente, lógico obedecendo os limites individuais, em 24h após a cirurgia.

É importante afirmar que após a recuperação total da cirurgia, a grande maioria das pessoas levará uma vida completamente normal.

É bem verdade que a vesícula biliar tem um papel importante na digestão das gorduras, porém o fígado ainda continuará a sintetizar a bile, porém não há lugar para armazená-la.

heath food

Com um pouco de mudança no estilo de vida, tendo uma alimentação mais saudável, rica em fibras, frutas, legumes e cereais, a digestão não será um problema. Afinal de contas, a cirurgia é para melhora na saúde e não piorar a qualidade de vida.

Desta maneira, caso tenha o diagnóstico de pedra na vesícula, não tenha nenhum receio de procurar logo o seu tratamento.

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